Quando comecei a ver Não Me Abandone Jamais eu tinha certeza de que se trataria de um drama cheio de romance, mas um das vantagens de se ver um filme sem saber direito sua sinopse é o da surpresa, e eu me surpreendi positivamente com o filme, principalmente por ser uma ficção com muitas pontadas de drama e romance, mas sem nunca apelar para o máximo do melodramático.
Talvez o que possa afastar o grande público é uma certa lentidão em como a estória é narrada pela personagem de Carey Mulligan, mas o interesse sobre os motivos da vida, sobre o que vale a pena dentro da vida, seja ela breve ou não, são o grande trunfo do filme, já que aqui encontramos 3 crianças que foram concebidas para salvar a vida de outras pessoas.
O diretor Mark Romanek consegue desde as primeiras cenas no colégio mostrar firmeza na forma de como contará a história de uma sociedade que pode curar qualquer pessoa, qualquer doença, mesmo que para isso precise criar jovens que mais cedo ou mais tarde serão usados para doar órgãos e possivelmente morrer antes dos 30 anos. Nas primeiras cenas ele deixa claro que a sociedade aceita aquilo e vê ali apenas órgãos e nunca seres humanos, e mostra isso de uma forma seca, usando muito bem a fotografia um pouco cinza e claramente fria.
Nas cenas do colégio já fica claro que as crianças são moldadas para acreditar que o mundo lá fora é cruel e que passar das cercas da escola pode ser fatal, assim como elas sabem que devem comer de forma saudável, e cuidar da saúde sempre, mas mesmo assim elas possuem sonhos de ter cavalos e de viver um grande amor quando forem adultos, nesta fase fiquei surpreso com a semelhanças da pequena Izzy Meikle-Small com Carey Mulligan já que vivem o mesmo personagem.
O filme ganha contornos ainda mais interessantes quando as crianças se tornam adultas na pele de Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield, que se tornam jovens frios, mas em busca de um algo, de viver pelo menos um grande amor antes do anunciado fim, principalmente Kath (Carey Mulligan), porém mesmo sabendo o seu destino eles aceitam isso passivamente e isso causa um incomodo do outro lado da tela, uma vez que apesar da busca do amor, e de buscarem nunca estar sozinho, parece que aceitam que o destino delas é salvar vidas, doando seus órgãos e desistindo da sua própria vida. Isso realmente causa uma angústia a quem assiste torcendo para que a força do amor vença.
Não Me Abandone Jamais tem 2 problemas em minha opinião, a lentidão e a presença de Keira Knightley que não traz a força necessária a sua Ruth, principalmente em um momento crucial do filme, aliás, a grande força do filme está em Carey Mulligan, pois ela sim nos traz a frieza e força necessária para viver Kath, que apesar dos sonhos, aceita calmamente o seu destino na esperança que em algum lugar algo melhor irá acontecer.
Até,
André C.
Never Let Me Go (Não Me Abandone Jamais – 2010)
Direção: Mark Romanek
Roteiro: Alex Garland baseada em romance escrito por Kazuo Ishiguro
Elenco: Carey Mulligan (Kathy), Andrew Garfield (Tommy), Keira Knightley (Ruth), Izzy Meikle-Small (Young Kathy), Charlie Rowe (Young Tommy), Ella Purnell (Young Ruth), Charlotte Rampling (Miss Emily), Domhnall Gleeson (Rodney), Andrea Riseborough (Chrissie) e Sally Hawkins (Miss Lucy).