Uma comédia de humor negro misturada com um drama sarcástico embalado por uma trilha sonora fantástica é o que podemos ver na tela no surpreendente e interessante Eu, Tonya.
Talvez o grande trunfo de Eu, Tonya seja o ar meio descompromissado de um falso documentário, o roteiro de Steven Rogers não toma a frente ou escolhe um dos lados, traz depoimentos de todos os envolvidos na vida da ex-patinadora Tonya Harding (Margot Robbie).
Podemos dizer ainda que a direção do Craig Gillespie não funcionaria sem o roteiro Steven Rogers e sem a ótima edição Tatiana S. Riegel, pois, apesar de ser um estilo um pouco batido, as idas e vindas entre o “falso” documentário e a história da patinadora funcionam com extrema fluidez, deixando o filme leve e atraente do início ao fim. Sem falar das cenas de patinação, uma aula de beleza e de edição.
Mas se a alma de um filme é o roteiro, um bom roteiro pode morrer sem que as peças certas estejam em cena, ou seja, mesmo que a direção, o roteiro, a edição e a trilha sonora estejam alinhados, tudo pode ruir se não tivermos as peças certas. Então pegue tudo isso e acrescente na tela a melhor atuação até o momento de Margot Robbie,
A escolha de Margot Robbie, que poderia parecer improvável, mas foi perfeita para viver Tonya Harding, pois ela está inspiradíssima, com o timing certo para comédia, drama e sarcasmo. Com toda a certeza a sua melhor atuação na carreira, ou talvez o personagem que deu a atriz a oportunidade de fazer algo diferente na tela e ela não deixou a oportunidade passar. Acredito que esta atuação inspiradíssima deve abrir para a ela a possibilidade de um universo maior de personagens para sua escolha.
Porém o show do filme fica por conta da atuação magistral de Allison Janney, os melhores momentos de Margot Robbie no filme são ao lado de Allison Janney, que leva o patamar de atuação do filme para outro nível. A atriz dá um show a parte, é uma atuação de deixar boquiaberto, porque se eu disse que Margot Robbie combina perfeitamente comédia, drama, sarcasmo, Allison Janney nasceu para isso, parece que é assim naturalmente, parece estar brincando na tela e atua sem esforço. O Oscar 2018 de melhor atriz coadjuvante ficou na mão certa.
Outro detalhe que ajuda o filme a funcionar e se torna interessante porque combina tudo isso de forma muito natural, mas ainda traz um lado mais crítico em volta de toda a história da ex-patinadora Tonya Harding, o filme não perde a oportunidade de fazer críticas claras ao modo da mídia trata os grandes atletas e seus dramas, não perde a chance de mostrar como pode ser cruel o mundo vivido por atletas de alta performance e mostra o preconceito existente (ou que existia) com a patinadora que não era criada em uma vida de conto de fadas e de princesa da Disney.
Um filme interessante do início ao fim, uma bela pedida e um dos bons filmes de 2017.
Abraços,
André
Eu, Tonya(I, Tonya – 2017)
Direção: Craig Gillespie
Roteiro: Steven Rogers
Elenco: Margot Robbie, Allison Janney, Sebastian Stan e Julianne Nicholson.