Uma das categorias mais barbadas do ano no Oscar foi a de Melhor Filme Estrangeiro, já que dentre os concorrentes tinha um longa que concorria também como Melhor Filme, ou seja, Amor começou a festa do Oscar com uma estatueta na mão e concorrendo a outros 4 (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Atriz).
Poderia definir o austríaco Michael Haneke como um diretor violento, tanto que seu longa Violência Gratuita não me empolgou quando vi, pois se tratava de um filme que provocava aflição e o desconforto sem muito propósito, mas o filme virou um cult e uma marca do diretor, porém com os anos o diretor não perdeu esta marca, de usar a violência, de criar algo pesado e cheio de desconforto, mas assim como no ótimo A Fita Branca, em Amor ele o faz de forma sutil, quase silenciosa, mas massacrante e sufocante em seu resultado final de reflexão.
Amor não é um filme violento, no caso de termos sangue e violência corporal, até temos a violência que não vale comentar por causa do spolier, em três cenas arrebatadoras, mas em todo o filme temos um outro tipo de violência, sufocante e que vai tirando o ar do espectador. A forma como Michael Haneke e seu ótimo elenco nos mostram de forma dura, emotiva e silenciosa o amor durante o fim, é pesado e de extrema verdade.
O filme é duro na sua concepção, é passado dentro de um apartamento e logo no começo o diretor já nos mostra o final, mas ele precisa desta imagem na nossa cabeça, pois esta é a imagem na cabeça do protagonista Jean-Louis Trintignant, simplesmente espetacular, que vê sua intimidade, seu amor, seu relacionamento definhar ao mesmo tempo que sua esposa, vítima de um derrame, vai deixando de existir. Tudo aquilo que os cerca no apartamento parece ir sumindo, aquele ar de cultura que tínhamos na casa, janelas abertas, clareza nas ideias naquele relacionamento íntimo e de anos, vai praticamente desaparecendo minuto a minuto durante o filme, ajudando a criar ainda mais a atmosfera sufocante por qual passa Jean-Louis Trintignant, o que no leva a cenas fantásticas, como a sua discussão com a enfermeira, que é de um realismo violento e impressionante.
Apesar da belíssima direção de Michael Haneke em sua concepção de violência silenciosa (que o consagrou em Cannes com A Fita Branca, e agora com Amor), isso tudo que descrevi acima só é possível pela atuação assombrosa da dupla de protagonistas, como disse Jean-Louis Trintignant está espetacular, sofre ao lado de sua esposa com tanta fé e amor que é dolorido de ver, e deveria ter sido lembrada no Oscar sim, assim como Emmanuelle Riva foi. Aliás a atriz se entrega em uma atuação visceral e extasiante, belíssima no sentido artístico, pois nos seus olhos podemos ver o sofrimento de uma pessoa que vai aos poucos morrendo, a maneira como ela sofre é absurdamente agoniante. Simplesmente sensacional!
Amor é um filme duro, sincero sobre amor, relacionamento e como reagimos no momento do fim, é algo humano e impressionante, mas não é um filme fácil e muito menos que eu sairia por aí indicando para qualquer um, mas é uma obra fantástica de um diretor que encontrou a maneira de mostrar a violência presente na sociedade sem apelar, sem precisar escandalizar, um filme como Amor te machuca, te sufoca, mas é excelente.
Até,
André C.
Amor (Amour – 2012 )
Sinopse: Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva) são professores de música erudita que já passaram dos 80 anos. A filha, que possui a mesma profissão, vive fora do país com o marido. Um dia, Anne é vítima de um derrame e o Amor que une este casal é posto à prova.
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
País: França, Alemanha e Áustria
Duração: 127 minutos
Prêmios: Oscar (Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Atriz, Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Filme) – Gobo de Ouro (Melhor Filme Estrangeiro) – Bafta (Melhor Atriz, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Diretor e Melhor Filme ) – Cannes (Palma de Ouro)
Elenco: Jean-Louis Trintignant (Georges), Emmanuelle Riva (Anne) e Isabelle Huppert (Eva).
Vi e gostei muito. Poético e forte.