2014 tem sido um ano bem diferente, quem acompanha o blog já percebeu que tenho visto menos filmes, menos séries e quando os vejo acabo nem sempre passando a minha opinião para a tela do computador, mas isso não é só por causa de mudanças pessoais e profissionais, ultimamente o cinema não tem me chamado a atenção, vejo filmes que ficam com aquela cara de que já vi em algum lugar, vejo séries que rodam, rodam e continuam rodando no mesmo lugar, mas no cinema algo me surpreendeu positivamente e mesmo tendo visto algum tempo atrás, Her foi o filme mais original que vi nos últimos tempos, foi o filme mais impressionante que vi em 2014 e com certeza (já estamos em outubro) o melhor filme que vi em 2014.
Originalidade e simplicidade fazem do filme de Spike Jonze imperdível, apesar de o filme se passar no futuro, é possível ver muitas críticas do filme ao mundo que temos hoje, com pessoas vivendo cada vez mais com a cabeça olhando para os celulares, tendo relações virtuais de todos os tipos e fomas e criando uma falsa alegria repleta de solidão.
O ótimo e imprevisível Joaquin Phoenix é Theodore, um pacato cidadão que trabalha escrevendo cartas sentimentais para outros, mas que vive isolado em sem mundo distante de amigos e de outras pessoas, principalmente após o fim do seu longo relacionamento. Joaquin Phoenix dá a Theodore toda a melancolia e tristeza necessária para a criação de um personagem cada vez mais comum no mundo em que vivemos, uma pessoa que vive em um mundo paralelo com medo das emoções que a vida humana pode nos trazer.
Aliás, a cor suave, os tons pastéis e um ar meio deprimido na fotografia fazem ainda mais evidente a vida que Theodore leva, pois, apesar de toda a tecnologia que o cerca, sua vida é sem emoção, sem sentimentos e sem cor, sem explosões, sem luz, talvez por isso que Spike Jonze tenha fugido daquele futuro cheio de luz, neons, músicas e tudo rodando de uma forma frenética.
E nada parece poder mudar essa vida de Theodore, cada dia mais rotineira e mais deprimida, não só a vida dele, as pessoas mostradas no filme vivem sem esperança, todas vivem olhando no vazio, vivem um mundo único e particular. Nada parece motivar Theodore a viver, a não ser que uma Scarlett Johansson apareça em sua vida e é isso que acontece, mas Scarlett Johansson é Samantha, um programa de computador que vai se moldando e criando uma “alma” conforme a vida de seu usuário, e é por causa da ambição da alegria que Samantha demonstra com a vida que Theodore começa viver novamente.
E com essa relação entre um homem e uma voz que o filme decola, é impressionante como a relação dos dois funciona, Joaquin Phoenix empresta aTheodore uma atuação viva, tirando aquele homem do marasmo, as cenas em que ele volta a viver, mesmo que com um computador, são impressionantes no choque entre um e outro Theodore, mas nada disso seria possível sem a voz rouca, sexy e dominante de Scarlett Johansson não é por menos que vi pessoas defendendo a indicação da atriz ao Oscar, toda a alma e alegria do filme se encontram na sua Samantha, um computador que quer algo mais, quer viver, quer sentir exatamente aquilo que os humanos cada vez mais deixam de sentir, as emoções.
E toda essa emoção, essa indignação que Samantha tem com a vida que os humanos levam só é evidente e forte porque Scarlett Johansson está realmente perfeita, apaixonante, é impossível você não se empolgar com a alegria dela viver, mesmo que ela não apareça nenhuma vez na sua frente, Scarlett Johansson convence Theodore e a quem assiste que a vida, as emoções e os relacionamentos de todos os tipos acontecem fora do nosso mundo virtual e seguro. Que precisamos e devemos querer mais da vida.
Her não é uma história de amor comum, é um romance entre um homem e uma máquina e de uma máquina pela vida, mas também é muito mais que isso, Her é uma história humana e original, uma crítica de Spike Jonze ao que vivemos hoje, Theodore não é uma pessoa ficcional, ela vive e pode estar do seu lado, uma pessoa que preferiu a solidão ao medo de viver os dramas da vida, o fim de um relacionamento novamente, a perda, o sofrimento, uma pessoa que prefere deixar as alegrias de lado com medo de sofrer, uma pessoa que se esconde dos seus problemas virtualmente, que não percebe ver o valor de uma amizade real ao virtual, não percebe que a vida está passando bem à frente dos seus olhos.
Vale ainda citar a boa e agradável presença de Amy Adams, mostrando sua versatilidade na tela e a boa trilha sonora.
Até,
André C.
Her (HER – 2013)
Sinopse AdoroCinema.com: Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor solitário, que acaba de comprar um novo sistema operacional para seu computador. Para a sua surpresa, ele acaba se apaixonando pela voz deste programa informático, dando início a uma relação amorosa entre ambos. Esta história de amor incomum explora a relação entre o homem contemporâneo e a tecnologia.
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
País: EUA
Duração: 126 minutos
Prêmios: Oscar 2014 – Melhor Roteiro Original (Spike Jonze) – Globo de Ouro 2014 – Melhor Roteiro Original (Spike Jonze) – AFI Awards 2014 – Melhor Filme
Indicações: Oscar 2014 – Melhor Filme, Melhor Canção Original (The Moon Song (Karen O/Spike Jonze)), Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Design de Produção – Globo de Ouro 2014 – Melhor Filme e Melhor Ator em Comédia ou Musical (Joaquin Phoenix)
Elenco: Joaquin Phoenix (Theodore), Rooney Mara (Catherine), Scarlett Johansson (Samantha (voz)), Amy Adams (Amy), Chris Pratt (Paul), May Lindstrom (Sexy Pregnant TV Star), Matt Letscher (Charles) e Olivia Wilde (Mulher do encontro às cegas).