Acabei de chegar do cinema e sei que preciso rever Cisne Negro, primeiro porque em Curitiba tem gente que prefere conversar e fazer da sala do cinema a praça de alimentação comendo de tudo que possa imaginar, de Cheetos a Big Mac.
Mas o outro motivo é que realmente importa, é que Cisne Negro é um drama psicológico extremamente envolvente, duro e selvagem. Onde a direção dominante de Darren Aronofsky e a atuação exuberante, obcecada e perfeita de Natalie Portman, já o fazem um dos favoritos a melhor filme em 2011.
Quem acompanha este blog sabe a minha real admiração por O Lutador, e seria muito fácil eu comparar O Cisne Negro com O Lutador, mas ao fazer isso eu seria injusto com dois, pois os dois são excelentes trabalhos de um diretor que gosta entrar profundamente na mente do ser humano, enquanto um queria se manter vivo fazendo o que amava, no outro o amor pelo que faz fica em segundo plano quando se busca a perfeição doentia.
Desde a primeira cena de Cisne Negro já sabemos que o Darren Aronofsky vai nos sufocar, vai nos levar a uma viagem por dentro da mente de uma pessoa que busca acima de tudo a perfeição, de uma pessoa que tem vários problemas. E o grande trunfo é que ele não tenta esconder isso da platéia, e mesmo abusando de alguns sustos e efeitos forçados, o que faz com o público sinta a vida sufocante de Nina é a fotografia pesada, a trilha sonora bem distribuída, os lugares claustrofóbicos, os jogos com espelhos e idas e vindas da câmera por entre labirintos da vida/mente de Nina.
Aronofsky não quer criar um suspense na cabeça de quem assiste ao filme, eu e todo mundo na platéia (os que não comiam num rodízio) sabemos que o problema de Nina é mental, que seu medo de fracassar, seu medo de não ser perfeita, sua insegurança, a competição com outras bailarinas e a educação rígida e exagerada da mãe, fazem da sua vida sufocante.
Mas tudo isso seria em vão se o elenco não estivesse afinado. Vicent Cassel é um grande ator, e sua maneira arrogante com que cobra a perfeição imperfeita de Nina, a rigidez com que ele admira a sua nova bailarina é importantíssimo para que Natalie Portman pudesse compor seu personagem.
Assim como é mais do que importante o erotismo presente em Mila Kunis, que em alguns momentos (guardadas as devidas proporções) chega a ter um ar de Angelina Jolie. Kunis consegue mostrar uma maturidade impressionante e principalmente consegue passar a platéia uma sedução que vai totalmente contra o ar angelical e puro de Portman.
Natalie Portman também não pode esquecer de agradecer, caso venha a ganhar realmente Oscar, nem a Cassel e nem a Kunis, mas principalmente a Barbara Hershey, que é uma mãe forte, dominante, sufocante e que ao mesmo tempo que torce pela filha, tem um amor invejoso e doentio.
E com todo este elenco ao seu lado e com uma estupenda direção, Natalie Portman só poderia ser perfeita. A sua entrega ao personagem é perceptível na tela, tanto fisicamente quanto emocionalmente, pois percebe-se em sua Nina a busca completa pela perfeição, pelo reconhecimento do diretor, do elenco, da mãe e do público. A cada crítica que recebe do diretor do Ballet, a cada olhar duro da mãe, a cada alucinação que ela tem, Portman nos sufoca junto, nos leva para dentro da sua mente, do seu corpo, nos faz agoniar por ela e com ela.
O Cisne Negro é um espetacular filme, desde a direção até a música, mas é para Natalie Portman a sua perfeição, e se em Bastardos Inglórios Tarantino no final diz que é a sua obra prima, aqui Natalie Portman, também o faz ao dizer: I felt it. Perfect. I was perfect.
Aos marmanjos de plantão a cena em que Natalie Portman está sozinha na cama e resolve executar a lição de casa pedida pelo seu mestre, mastubar-se, é uma cena de erotismo, sensualidade e beleza, que em minha opinião ganhou da tão esperada cena sexo entre Mila e Natalie.
Thomas Leroy (Vincent Cassel): Nina, what did you do?
Nina (Natalie Portman): I felt it. Perfect. I was perfect.
Até,
André C.
Cisne Negro (Black Swan – 2010)
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heyman, Andrés Heinz e John J. McLaughlin, baseado em história de Andrés Heinz.
Elenco: Natalie Portman (Nina Sayers), Mila Kunis (Lily), Vincent Cassel (Thomas Leroy), Barbara Hershey (Erica Sayers), Winona Ryder (Beth Macintyre), Benjamin Millepied (David) e Ksenia Solo (Veronica)
A frase final de Nina resume o que foi o filme: “Foi perfeito!” E ainda com os aplausos… ficou sensacional. Merecem todas as congratulações Aronofsky, Natalie, Cassel…