Eu acho que o cinema já está cheio de filmes sobre exorcismo e todos que eu vejo sempre acho que eles não tem nada mais para acrescentar neste sub-gênero do terror, principalmente porque a maioria começa do mesmo jeito, seguindo a fiel cartilha dos filmes sobre o tema: sempre temos o padre que está em dúvida com sua fé e a existência de Deus e do Diabo, sempre temos aquele parquinho vazio em que os brinquedos se mexem fazendo sons irritantes, temos a criança com olhar triste e assustador e, por final, em 99% temos um padre veterano que desafia os demônios e vive longe da igreja. Em O Ritual temos tudo isso, porém o filme tem seu valor próprio.
No começo do filme pensei que ia ver mais do mesmo, ou seja, um filme onde o demônio domina uma indefesa menina com sustos, cabeças virando, sangue e muita gosma verde, porém o personagem de Anthony Hopkins até faz piada sobre isso, que em exorcismo não tem cabeça virando e nem sopa de ervilha voando, apesar de que aqui o domínio do Diabo ser físico também. Porém o filme não perde tempo nestes sustos fáceis (eles estão presentes) e nem quer apenas causar trauma ao fazer os possuídos se contorcer ou mudar a voz, o filme acaba indo para um embate psicológico, um embate interessante sobre a relação Deus, Homem e Diabo.
Infelizmente o poder desta trama perde com a atuação fraca do Colin O’Donoghue (desconhecido para mim) como o seminarista que está em dúvida sobre sua fé e sua vocação, uma vez que o ator parece apático mesmo nas cenas mais importantes e fortes do filme, indo totalmente no caminho inverso da atuação forte e dominadora do veterano Anthony Hopkins, para mim o grande responsável do filme funcionar como um terror mental e não como um filme que quer apenas dar susto fáceis.
No final de O Ritual o diretor Mikael Håfström não toma no fundo nenhuma decisão sobre quem é Deus e quem é o Diabo, ele apenas afirma que independente do que aconteça para acreditar em um é preciso acreditar no outro, mas mesmo assim deixa questões em aberto, pois o roteiro de Michael Petroni repete por várias vezes que o personagem de Colin O’Donoghue foi desde o início escolhido para estar ali, mas sem nunca afirmar se foi Deus ou Diabo que o conduziu para aquele momento, deixando novamente no ar a duvida de quem é um e quem é outro ou se ambos são um só.
Até,
André C.
The Rite (O Ritual – 2011)
Sinopse: Michael Kovak (Colin O’Donoghue) é um seminarista cético e decidido a abandonar seu caminho na igreja, mas seu superior o orienta a passar um período no Vaticano para estudar rituais de exorcismo. Uma vez lá, suas dúvidas e questionamentos só aumentam na medida em que seu contato com o padre Lucas (Anthony Hopkins), um famoso jesuíta exorcista, o apresenta ao lado mais obscuro da igreja.
Direção: Mikael Håfström
Roteiro: Michael Petroni baseado em livro de Matt Baglio.
Elenco: Anthony Hopkins (Father Lucas Trevant), Colin O’Donoghue (Michael Kovak), Alice Braga (Angeline), Ciarán Hinds (Father Xavier), Rutger Hauer (Istvan Kovak), Toby Jones (Father Matthew), Marta Gastini (Rosaria) e Maria Grazia Cucinotta (Aunt Andria).