Assim como a Glória Pires não posso opinar sobre todos os filmes que concorreram ao Oscar de Melhor Filme, mas dentre os filmes que assisti realmente Spotlight foi o melhor.
Spotlight não é aquele filme que você assistirá dezenas de vezes e nem aquele filme com aquela cena marcante e que se tornará histórica, ou com alguma inovação cinematográfica, mas assim como a reportagem histórica do Boston Globe, Spotlight é corajoso, é despido de qualquer sentimento hollywoodiano e toca um assunto delicado com precisão.
O filme, como escrevi acima, não inova, o diretor Thomas McCarthy parece que realmente olhou os grandes filmes jornalísticos do cinema e mesclou um pouco de cada aqui, pois aproveita de um roteiro enxuto para colocar uma dinâmica impressionante e que te faz não querer piscar na cadeira do cinema. Assim, como um bom filme investigativo, o filme toca e se concentra no caso principal, desde a primeira cena e vai acelerando, felizmente aqui não há tempo para romance ou dramas paralelos, é preciso manter a velocidade em cima dos fatos que vão pipocando na tela.
É verdade que poderíamos ter mais impacto neste filme delicado se tivéssemos um pouco mais de tempo para os depoimentos das famílias violentadas pelos padres, mas o filme e o roteiro mostram de forma bem clara a forma de agir destes famigerados padres e o alvo preferencial deles, mostrando a complacência do alto escalão da Igreja Católica.
Porém o filme quer dar esse recado, mas tem o outro lado que é mostrar que a imprensa quando livre e sem ser manipulada por empresas ou governos pode e deve ir a fundo e fazer um trabalho espetacular para a sociedade, aliás, o filme começa a mostrar a mudança de postura da imprensa com a internet, já deixando claro a diferença entre uma reportagem investigativa bem feita e que vai fundo na alma da notícia em comparação com as notícias fáceis da internet. Claro que hoje a notícia chega a onde quiser em segundos, mas são jornalistas de verdade como os do filme que sabem realmente o que é notícia de verdade
Mas tudo isso que disse acima só funciona por um elenco preciso, um elenco atuando em ritmo tão forte como o ritmo empregado pelo filme. Talvez, como disse acima, não temos nenhuma cena impressionante, mas Mark Ruffalo é sempre um ator fora do comum, seu personagem é o que mais se sente violentado pela história que está contando, inclusive pensei em algum momento que teríamos alguns drama pessoal com ele sendo um dos abusados, felizmente o filme não foi para o dramalhão fácil.
Rachel McAdams é uma grata surpresa, finalmente tem escolhido melhor seus papéis e nos apresenta uma atuação forte, segura e intimista, claro que o elenco de apoio com quem ela atua nas suas entrevistas ajuda.
Outro belo destaque é Michael Keaton talvez não tenha aquele papel que lhe rendeu o Oscar, mas sua atuação simples é dominante quando está na tela, inclusive Ruffalo se aproveita do veterano ator para ter uma das melhores cenas do filme. Michael Keaton tem uma atuação tão certeira que percebemos rapidamente do lado de cada da tela o seu sofrimento por deixar passar algo no seu passado.
Não falarei de Stanley Tucci, porque como sempre dispensa comentários.
Spotlight é um baita filme, como falei neste post poderia ter se aprofundado mais nos dramas das famílias abusadas e daria ao filme mais impacto e “violência”, mas também poderia ter apelado para o drama fácil e por felicidade do roteiro e do diretor o filme misturou drama, investigação e filme jornalístico na dose certa.
Até,
André C.
Spotlight: Segredos Revelados (Spotlight – 2015)
Sinopse: Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso.
Direção:Thomas McCarthy
Roteiro: Thomas McCarthy e Josh Singer
País: EUA
Duração: 128 minutos
Elenco: Mark Ruffalo (Mike Rezendes), Michael Keaton (Walter ‘Robby’ Robinson), Rachel McAdams (Sacha Pfeiffer), Liev Schreiber (Marty Baron), John Slattery (Ben Bradlee, Jr.), Brian d’Arcy James (Matt Carroll), Stanley Tucci (Mitchell Garabedian), Elena Wohl (Barbara), Gene Amoroso (Steve Kurkjian) e Doug Murray (Peter Canellos).