Resolvi ver o filme por causa da ótima impressão que o diretor Eran Riklis e da exuberante Hiam Abbass (Munique, O Visitante, Paradise Now) me deixaram após eu ver a pequena obra-prima chamada Lemon Tree. E A Noiva Síria é um excelente filme, mas na minha opinião o cineasta evoluiu e muito, principalmente na sensibilidade entre os dois filmes.
Aqui, em A Noiva Síria, somos levados para as Colinas de Golam, território que foi tomado da Síria por Israel em 1967. Estamos dentro de uma família, dentro de um povo sem nacionalidade, como vemos algumas vezes nos passaportes da família. Estamos dentro de uma família de Drusos onde uma das filhas se casará com um rapaz, também Druso, como manda a religião, porém ele mora na Síria.
Estamos exatamente na fronteira, aliás, o casamento precisa acontecer na fronteira, pois Mona (Clara Khoury) entrará novamente na Síria, para nunca mais ver parentes e amigos do lado de Israel. E o casamento aqui é usado como uma metáfora, para uma reunião praticamente impossível entre Drusos dos dois lados. Eran Riklis usa o casamento para mostrar que povos, famílias e amores foram separados para sempre. Em algumas cenas, primos se comunicam entre as fronteiras usando megafones. E esta separação por mais que se lute, por mais que se tente, será eterna.
Eran Riklis consegue impressionar, de uma forma até meio poética e sensível, mesmo caindo no comum, ao deixar o casamento em segundo plano, para discutir a família, seus problemas, brigas, política, religião, educação, etc. E é justamente esta sensibilidade, presente aqui, na música, na fotografia, nos olhares que evoluiu e muito na carreira do diretor, pois, em minha opinião, este sensibilidade que brotava, aqui em A Noiva Síria, é clara, forte e dominante em Lemon Tree.
O filme tem esta carga sensível em cima de 3 personagens: Amal (Hiam Abbass) a irmã de Mona, Hammed (Makram Khoury) o pai de Mona, e obviamente Mona (Clara Khoury). Amal é a irmã que se preocupa com tudo, responsável e que deseja crescer na sua vida. Hammed é o pai que vê na filha a esperança de unir seu povo, sua gente e tem o dilema entre a família e a religião. Mona, silenciosa, pensativa, representa o medo que todos sentem sobre o futuro, sobre um novo recomeço e na incerteza do casamento.
Mas como não podia deixar de ser o destaque do filme é a espetacular Hiam Abbass. É o terceiro filme em curto espaço de tempo que vejo com a atriz palestina, e é o terceiro filme que tenho vontade de aplaudir sua atuação de pé. Obviamente, em Lemon Tree, ela está ainda melhor, apoiada na evolução do diretor.
A Noiva Síria, não é um filme simples, mas é um filmaço, daqueles que merecem respeito e com certeza não deveriam ficar esquecidos nas prateleiras das locadoras.
Até,
André C.
p.s.: Clicando nos links Drusos você vai para o blog do Pedro Doria, em dois posts interessantes sobre quem são e como vivem os Drusos.
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Sinopse: Colinas de Golam, na fronteira entre Israel e Síria. Está em andamento a preparação das bodas de uma jovem drusa, que mora no lado israelense, com um astro de TV também druso, mas que mora do lado sírio. A noiva precisa atravessar a fronteira, mas a burocracia do procedimento atrapalha a realização do casamento.
Gênero: Drama
País: Israel / França / Alemanha
Ano de Produção: 2004
Tempo de Duração: 97 minutos
Lançamento em Israel: 02/12/2004
Lançamento no Brasil: 01/10/2004 (Festival do Rio)
Direção: Eran Riklis
Roteiro: Suha Arraf e Eran Riklis
Premiação: Prêmio do Público – Festival de Locarno