Se algum amigo me perguntasse se eu recomendaria o filme A Árvore da Vida, com toda a certeza eu responderia que não, pois se trata de um delírio cinematográfico de um cineasta que tem o poder de fazer o que tiver vontade na tela, e desta maneira temos um filme de “autor” interessantíssimo, porém um pouco difícil e cansativo. Então para evitar problemas com os amigos eu deixaria eles por conta e risco, mas jamais recomendaria o filme do diretor Terrence Malick.
Terrence Malick viaja por um mundo próprio onde ele divaga sobre o poder do Pai, seja ele Deus, seja ele de corpo e alma como nossos pais. Divaga sobre até onde vai sua força, até onde devemos ser dominados pela autoridade daquele que chamamos de Pai. Mallick faz ao mesmo tempo um filme religioso e familiar, ao seguir uma família que em certos momentos acaba colocando em dúvidas se realmente seguir aquele que chamamos de Pai é o melhor que temos que fazer, se aqueles mandamentos nos fazem um ser humano melhor e se aquilo irá nos proteger a vida toda.
Seguir os mandamentos da sua igreja realmente de salvará dos problemas? Se Deus pode tirar aquilo que te dá, nós devemos seguir Deus cegamente ou podemos duvidar de seu poder? Onde estava Deus na hora de aflito? Por que Deus te abandonou quando você mais precisou? Deus existe? São as perguntas que Terrence Malick coloca no ar nas primeira hora do filme, indo do Big-Bang até a morte de um filho, Malick não tem medo de colocar a dúvida da vida na cabeça de quem assiste, seja este Ateu ou Religioso. Malick não quer mudar o que você pensa ou o que você acredita e segue, quer apenas discutir sobre aquele que você chama de Pai, aquele a quem você recorre quando precisa.
E Pai é sempre Deus?! Quem nos ensina na verdade a ser quem somos? Depois da metade do filme o Pai em questão não passa mais a ser Deus, mas sim o Pai que nos criou, sustentou e educou. Até onde vai o seu poder? Até onde devemos seguir seus ensinamentos cegamente? Nosso pai pode nos proteger de tudo? Onde estará nosso pai naquele momento de aflito? Malick não quer mudar o que você pensa ou o que você acredita e segue, quer apenas discutir sobre aquele que você chama de Pai, aquele a quem você recorre quando precisa.
Seja Deus ou simplesmente nosso pai, Terrence Malick cria um belíssimo filme sobre a vida, sobre o amor, sobre quem somos e onde iremos. Sobre aquilo que nós seguimos e aquilo que podemos nos tornar. Seja você ateu, seja você religioso sempre existe um momento na sua vida que pode determinar aquilo que você será, aquilo que você se tornará. Terrence Malick viaja pela vida que nos cerca, pela natureza e pelo amor que é o grande sentimento que mantém a vida acesa.
O filme é recheado de belíssimas imagens, a fotografia de Emmanuel Lubezki é impressionante, dominante, penetrante e, obviamente, indicada ao Oscar 2012. Emmanuel Lubezki consegue impressionar sem querer apresentar grandes inovações, a câmera é lenta quando precisa e é incrivelmente envolvente em um vai em vem segundos depois. É com a fotografia de Lubezki que Terrence Malick consegue mostrar as pequenas diferenças nas atitudes dos personagens, é com um close ou com uma distância considerável que pode-se mudar a forma de ver a cena, de concluir um momento.
Mas um filme com esta força, com um tema tão controverso não poderia ter uma música simples, por isso Alexandre Desplat merece um destaque por criar junto com a sua música uma atmosfera ainda mais espetacular, ainda mais poderosa e tirar das imagens (principalmente das cenas sem atores) uma interpretação através da música. A belíssima Lacrimosa (Requiem for my friend – Part 2 – Life – Apocalypse) do compositor polonês Zbigniew Preisner é tão forte e precisa que parece querer sair da tela e tomar a sala.
Bem, após tantos elogios, você pode ser perguntar porque eu não recomendaria A Árvore da Vida para meus amigos ou até para você que acompanha o blog, pois Árvore da Vida é um filme lento, difícil, cansativo e sem uma narrativa linear. A Árvore da Vida, apesar de ter grandes nomes no elenco como Brad Pitt e Sean Penn, é um filme todo do diretor, que abusa de imagens, paisagens, da música e da fotografia, em certos momentos os diálogos passam a ser supérfluos de um filme que trata da vida da maneira mais simples possível, do ser humano e seus conflitos internos. Terrence Malick consegue de uma forma lenta nos fazer pensar sobre nossos valores, sobre Deus, sobre nossa família e sobre tudo aquilo que nos cerca, que chamamos de vida. Uma obra, que pode não ser uma obra-prima, mas é uma obra de um diretor que usa o cinema como ele bem entende, sem medo de errar.
Até,
André C.
Árvore da Vida (The Tree of Life – 2011)
Sinopse: ‘Árvore da Vida’ aproxima o foco na relação entre Deus e o devoto, pai e filho de uma família comum, e expande a ótica desta rica relação, ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos, em uma fabulosa viagem pela história da vida e seus mistérios, que culmina na busca pelo amor altruísta e o perdão.
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt (Mr. O’Brien), Sean Penn (Jack), Jessica Chastain (Mrs. O’Brien) e Hunter McCracken (Young Jack).
Excelente resenha!
Concordo com seu posicionamento cauteloso ao (não) recomendar o filme, pois as reações que podem causar em diferentes espectadores podem ser dramaticamente distintas.
Também concordo com seus elogios à trilha sonora (http://blogs.indiewire.com/theplaylist/music_list_all_37_songs_features_in_terrence_malicks_the_tree_of_life): só o fato de incluir trechos da Sinfonia No. 1 de Mahler e — especialmente — da Sinfonia No. 3 de Henryk Górecki já bastariam para mim.
Pra terminar: a narrativa é tão não linear que dizem que em alguns cinemas o operador do projetor inverteu os 2 primeiros rolos e ninguém notou!
http://www.firstshowing.net/2011/italian-cinema-shows-tree-of-life-out-of-order-and-no-one-notices/
:-O
Para mim, 3.5 pipocas.
🙂
Abraços.