Antes de começar a ler este post saiba que este blogueiro gosta e muito de fábulas que brincam com a vida, morte e segundas chances, gosta do imaginário de que podemos em algum momento dar uma mudada na nossa vida. Este gosto vem desde que vi A Felicidade Não Se Compra, para mim um dos melhores filmes já feitos e com certeza a melhor fábula que o cinema já construiu sobre a vida e a morte. Sabendo disso, saiba que este comentário também contém alguns spoliers que podem comprometer em parte este excelente e imporvável filme.
Muito se fala que a vida é curta e que não podemos simplesmente passar pela vida e que devemos realizar algo, deixar a nossa marca e, sempre que possível, sermos um pouco mais felizes. Enquanto alguns dizem que devemos plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho para exemplificar isso, o diretor Marc Forster e o roteirista Zach Helm usaram uma escritora e seu personagem para mostrar que a vida é realmente curta e devemos dar mais valor a cada momento dela.
Logo no começo do filme uma voz narra a chata vida de Harold Crick (surpreendente atuação de Will Ferrell) que é um auditor da receita federal e que leva a vida de forma milimetricamente controlada, desde o número de escovadas de dentes até os minutos que ele tira para tomar um café. A voz não cansa de repetir que a vida dele é toda matemática, que ele é metódico em tudo que faz e leva uma vida solitária, chata, sem amigos e sozinho.
Ao mesmo temo que seguimos Harold uma escritora dramática, muito bem interpretada por Emma Thompson, vive um bloqueio criativo e não sabe como terminar mais um romance, principalmente para manter a fama de que seus heróis sempre morrem ao final dos livros. Seus personagens normalmente são pessoas com problemas, assim como ela que usa a sua “pesquisa” de campo para se imaginar em situações de suicídio. Assim como Harold sua vida não é nada empolgante e suas pesquisas são um namoro com a sua própria morte.
Mas o que aconteceria se tal personagem fadado a morte fosse o melancólico e triste Harold Crick? E que em uma bela manhã ele começasse a ouvir uma voz que narra cada segundo na sua vida. E o que pensar quando esta voz simplesmente fala: “Mal sabia ele que esta ação tão corriqueira daria início a eventos que levariam a sua morte“? É com a união de todos estes fatos que o filme transforma-se em uma belíssima e interessante fábula sobre a vida.
Porque é a partir desta pequena frase dita pela narradora/escritora que Harold muda sua vida, começa a dar chance para o amor, procura amigos e começa a olhar a sua vida. O filme trabalha uma belíssima e interessante mensagem de que devemos dar mais valor a vida, devemos viver a vida como se todo dia pudesse ser o último. Ao saber que poderia morrer a qualquer momento, Harold luta pela sua vida que era apática e sem emoção, e passa a esquecer do relógio, do tempo e começa realmente a viver. O mesmo acontece com a narradora, que ao saber que iria matar um homem de verdade, uma pessoa real, repensa a sua vida, as suas questões mudam e ela volta a viver.
A fábula que existe no filme supera totalmente certa lentidão inicial e com um elenco muito bem em cena, principalmente Will Ferrell (que este blogueiro não gosta), o filme ganha um ar diferente e realmente prende a atenção na luta de Harold pela sua vida que antes ele mesmo perdia. Além de Will Ferrell, Emma Thompson está excelente como a depressiva escritora, totalmente inverso dela está Dustin Hoffman que é um professor alegre, forte e que acredita nas pessoas. Aliás, Will Ferrell também tem uma personagem fazendo contraponto ao seu, é a sempre competente Maggie Gyllenhaal, que é o oposto de Harold, uma vez que ela vive a vida, curte cada momento e, principalmente, não se prende a regras, deixando a vida acontecer em busca da felicidade.
Você pode pensar como eu gostei do filme que junta o real com a ficção sem explicar nada, além do que essa a ideia não é nada original, sem dizer que mesmo assim ainda é arriscado fazer um drama/comédia onde dois mundos se encontram sem uma explicação plausível, apenas acontecem como uma virada fácil no roteiro. Além do mais já vimos algo parecido com isso em Quero Ser John Malkovich, Adaptação e outros roteiros de Charlie Kaufman, onde algo improvável acontece naturalmente no mundo sem ter muita explicação. Ou indo mais longe como em Feitiço do Tempo onde o personagem Bill Murray vivia o mesmo dia diversas vezes até reavaliar a sua vida e suas prioridades para o mundo seguir adiante. Por que eu gostaria de um filme assim?!
Porque é justamente por não tentar explicar o real do irreal que o filme simplesmente encanta.
Até,
André C.
Mais Estranho Que a Ficção (Stranger Than Fiction – 2006)
Sinopse: Certa manhã, um funcionário comum e normalmente solitário da Receita Federal chamado Harold Crick começa a ouvir uma voz feminina narrando todos os seus pensamentos, sentimentos e ações com precisão e detalhismo surpreendentes. A vida meticulosamente controlada de Harold é virada de cabeça para baixo por essa narração que só ele pode ouvir; e quando a voz declara que Harold Crick está em uma situação de morte iminente, ele percebe que precisa descobrir quem está escrevendo sua história para persuadi-la a mudar o final.
Direção: Marc Forster
Roteiro: Zach Helm
Elenco: Will Ferrell (Harold Crick), Emma Thompson (Karen Eiffel), Maggie Gyllenhaal (Ana Pascal), Dustin Hoffman (Professor Jules Hilbert), Queen Latifah (Penny Escher) e Tony Hale (Dave)
Adoro esse filme! Ótimos atores, ideia bacana e bem desenvolvida. Um dos meus favoritos.
Adorei esse filme. Direção e elenco perfeitos. Muito boa atuação do magnífico ator Dustin Hoffman assim como em Luck que envolve o complexo mundo das corridas de cavalos, estou muito empolgada, também com esse elenco fantástico só poderia ser ótima.