O grande problema do filme de Selton Mello é que ele é lento e tem uma certa melancolia que persegue o personagem Benjamim, vivido pelo ator, pois ele é o retrato fiel daquele palhaço que no picadeiro ri e faz rir, mas por trás daquele sorriso pintado existe algo triste e perturbador que não deixa O Palhaço realmente ser o mesmo dentro e fora do circo.
Até aí nenhuma novidade, uma vez que já vimos outras vezes as pessoas retratarem isso dos palhaços, mas transporte isso para o interior do Brasil em um circo pequeno, falido e com problemas que ele, O Palhaço, precisa resolver, problemas que vão desde onde montar o circo até arrumar um carro, porém o principal, que ele nem percebe, é que ele não sabe quem realmente é e o que quer, Benjamim está naquele momento infeliz de procurar ele mesmo e de achar a sua identidade.
Neste procura de Benjamim por ele mesmo, Selton Mello melancolicamente viaja pelo interior do Brasil mostrando a dura realidade dentro de um circo, onde a “falsa” harmonia reina para um pequeno grupo que vive de pequenas alegrias, como as cidades em que visitam aonde o circo ainda traz magia e encanto, mesmo que O Palhaço esteja distante, sonhando com um futuro distante dali.
E nesta jornada o diretor nos reserva belíssimos momentos, como a visita do grupo aos mecânicos, vividos por Tonico Pereira, pois neste momento o diretor faz uma homenagem a comédia simples, a comédia falada, onde o circo vira espectador dos dois irmãos mecânicos, e assim o diretor faz de novo com o delegado, Moacyr Franco (que eu só descobri que era ele nos créditos).
Talvez estes sejam os dois melhores momentos do filme, pois tratam de uma homenagem ao Brasil e suas particularidades, ao humor simples e sem apelação, assim como as piadas que surgem com a repartição pública (com o Ferrugem), na loja de departamento, no restaurante, na oficina e na relação com os prefeitos das pequenas cidades. Todos recheados de pequenas piadas e de um humor que não vemos mais por aí, um humor simples, puro e sem maldade.
Mas além disso o filme deixa uma mensagem interessante, pois Benjamim procura, procura e até tenta mudar a vida que leva, mas sem perceber que ele faz a vida dele, e por isso o ponto alto do filme é a sua relação com seu pai, o incansável Paulo José. Quando O Palhaço se reencontra com ele mesmo, ele se reencontra com a vida, com o pai e a “falsa” harmonia passa a ser uma harmonia real, colorida e verdadeira.
O grande problema do O Palhaço é sua lentidão, a melancolia da vida de Benjamim realmente passa em alguns momentos para o lado de cá da tela, mas o filme é um excelente e belo trabalho do Selton Mello que fez de pequenos momentos do filme, grandes momentos do cinema brasileiro e da sua quase esquecida comédia.
Até,
André C.
O Palhaço (O Palhaço – 2011)
Sinopse: A narrativa traz a história de Benjamin (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José), pai e filho conhecidos nos picadeiros como os palhaços Pangaré e Puro Sangue. Eles ganham a vida viajando pelo país com o Circo Esperança; sem endereço fixo, sem vizinhos, sem documentos.O drama começa quando Pangaré, cansado da vida na estrada, começa a achar que já não é mais um palhaço engraçado, fazendo despertar um sonho antigo de ter um lugar para morar e um CPF, comprovando sua identidade.
Direção: Selton Mello
Roteiro: Selton Mello e Marcelo Vindicato
Elenco: Paulo José (Valdemar / Puro Sangue), Selton Mello (Benjamim / Pangaré), Larissa Manoela (Guilhermina), Giselle Motta (Robson Félix), Hossein Minussi (Chico Lorota), Maira Chasseroux (Lara Lane), Thogun (Gordini), Jackson Antunes (Juca Bigode), Moacyr Franco (Delegado Justo), Tonico Pereira (Beto / Deto), Ferrugem (Atendente da Prefeitura) e Danton Mello (Aldo).
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