O cinema francês talvez seja atualmente o melhor em criar dramas pessoais e familiares, pois mais uma vez vejo sair do cinema de lá um drama familiar muito bem construído, e se não é uma obra marcante, é um filme muito bem feito, muito bem construído e que surpreende de uma maneira geral.
O filme narra a busca de Thomas pela sua mãe que o abandonou junto com o irmão mais novo, este por não ter lembranças vive normalmente com os pais adotivos, mas Thomas em certo momento da vida resolve buscar a mãe que ele lembra e quer amar de alguma forma. Desta maneira parece um filme como outro qualquer, existem vários que tocam nisso, mas aqui tudo parece mais real, mesmo com exageros na forma de agir de Thomas, o filme parece ser mais sincero com o sentimento de todos os envolvidos: o filho abandonado, a mãe adotiva e a mãe genética.
O filme, obviamente, deixa quem assiste com uma certa raiva de Julie (a ótima Sophie Cattani), que abandona os dois filhos por não poder criá-los e parece não se importar com eles, principalmente porque neste período Thomas é vivido de uma forma muito boa pelo pequeno Gabin Lefebvre. É impossível você não criar antipatia pela mãe ao ver a cara do pequeno ator Gabin Lefebvre, que realmente surpreende ao sentir todo o drama que o filme pedia naquele momento.
Neste período os diretores Claude e Nathan Miller (pai e filho na vida real) namoram com um possível incesto entre Julie e Thomas no futuro, pois o filho constantemente observa a mãe com olhares de posse, mas claro que isso é na inocência de uma criança, o olhar é de admiração, amor e paixão em que o pequeno Thomas observa tudo que sua mãe faz.
Com o passar do filme conhecemos Thomas na fase adulta, também com uma ótima e surpreendente atuação de Vincent Rottiers, que tenta se reaproximar da sua mãe de verdade e se afasta da sua família. No período em que conhece a mãe, os diretores novamente namoram com o complexo de Édipo, mas nunca se aprofundam nisso, talvez querendo mostrar uma paixão, mais que carnal, que nasce naquela relação. Thomas se aproxima da mãe para se proteger, e sua relação com seu novo irmão, parece mais para que a mãe não cometa o mesmo erro com o novo filho que cometera com ele. Esta relação, as vezes violenta, cheia de amargura vai crescendo até chegar a limites em que o ciúmes, rancor, amargura, ódio, amor, revolta, começam a se aproximar da loucura. Uma paixão forçada e doentia.
Não continuarei me aprofundando nesta relação entre Thomas e sua mãe de verdade para não estragar o filme, mas ao mesmo tempo que exageram em um Thomas que parece um adolescente sem medir as consequências dos próprios atos, os diretores Claude e Nathan Miller conseguem construir uma relação forte e tensa, fazendo de Feliz Que Minha Mãe Esteja Viva um filme que prende a atenção e leva a momentos em que não sabemos mais quem tem razão, quem é mais simpático, quem é culpado. Os diretores conseguem fazer um interessante drama sobre relacionamento de um filho com duas mães, pois ao mesmo tempo que mostram Thomas querendo se aproximar de Julie, mostram a mãe adotiva Annie Jouvet (Christine Citti) querendo se aproximar dele, ou seja, eles realmente deixam que o público escolha um lado durante a segunda parte do filme.
O filme só não ganha mais pipocas pelo fato de exagerar demais nos atos de Thomas, atos que ajudam na belíssima atuação de Vincent Rottiers, mas que parecem um pouco infantis para um rapaz de 20 anos e por alguns momentos o filme parece se perder na sua forma de contar a história e se torna um pouco distante do que o filme realmente é, um tenso drama familiar entre 2 mães e 1 filho. Acredito que um pouco mais de ênfase na mãe adotiva, equilibraria o filme de forma perfeita.
Até,
André C.
Feliz que Minha Mãe Esteja Viva (Je suis heureux que ma mère soit vivante – 2009)
Sinopse: : Quando adolescente, Julie (Sophie Cattani) abandonou seus dois filhos, um de quatro anos e o outro ainda bebê. Adotados por um casal, o irmão mais novo cresceu sem crises existenciais, mas Thomas (Vincent Rottiers) sempre quis conhecer suas origens. A raiva que o abandono causou em Thomas, começa a se manifestar na sua pré-adolescência. Aos 20 anos, Thomas encontra a mãe biológica e, na tentativa de ocupar o hiato da relação entre os dois, força um envolvimento e intimidade não convencional entre mãe e filho.
Direção: Claude Miller e Nathan Miller
Roteiro: Alain Le Henry, Claude Miller e Nathan Miller baseados em conto de Emmanuel Carrère.
Elenco: Vincent Rottiers (Thomas Jouvet), Sophie Cattani (Julie Martino), Christine Citti (Annie Jouvet), Yves Verhoeven (Yves Jouvet), Maxime Renard (Thomas – 12 anos) e Gabin Lefebvre (Thomas 4 anos)