Falar do excepcional A Fita Branca do alemão Michael Haneke é repetir tudo que já foi dito e escrito por aí, pois A Fita Branca é impressionante pela fotografia, pelas atuações do elenco infantil e principalmente pela violência silenciosa que é a alma do filme.
É fácil e simples ligar os fatos da educação rígida, extremamente religiosa, autoritária e cheia de opressão com o nazismo que estava prestes a nascer e que seria um regime autoritário e de opressão, mas Haneke queria muito mais que isso.
Ao escolher fazer o filme em preto e branco, Haneke acertou a mão, pois como somos levados a uma “aldeia” aonde o progresso não chegou, as cores poderiam modificar o tédio, o medo e agonia por qual passavam aquelas crianças. E não é só das crianças que Haneke trata. Este medo, esta agonia, este tédio também cercavam as mulheres, em uma sociedade machista, onde elas nada mais eram do que empregadas da casa e do sexo. Mulheres a serviço dos homens, sejam as esposas ou as filhas. Uma sociedade falsa, machista e altamente cega aos verdadeiros valores da vida, pois foram e eram criados dentro de uma fé exagerada, cega e autoritária.
Claro, como disse, é fácil ligar ao Nazismo, mas Haneke vai mais fundo em seu trabalho, pois é uma crítica, ou talvez, uma análise da educação autoritária e dos desvios que isso pode trazer ao crescimento de pessoas e da sociedade, seja na Alemanha dos anos 20 ou de hoje, seja na Alemanha ou no Brasil. Haneke, sem dar respostas, sem ser claro, sem ser objetivo, nos apresenta uma mudança significativa na alma de cada uma das pessoas do filme, pessoas que por causa de sua educação e das suas crenças às vezes não conseguem ver o que esta diante dos seus olhos, ou seja, seus próprios erros.
A fotografia em Preto e Branco de Christian Berger, excepcional, é um personagem do filme, pois a iluminação das cenas, a maneira como ele ilumina as crianças e ao mesmo tempo as cerca de preto, faz com que tudo se torne ainda mais forte emocionalmente. Graças a esta maravilhosa fotografia Haneke constrói um filme extremamente violento, mas sem mostrar nenhuma cena de violência, pois o “mal” está no ar e ele age de forma silenciosa moldando todos os personagens do filme.
Para finalizar podemos comparar dois trabalhos que tratam a educação como formas de mudar crianças, adolescentes e adultos, A Fita Branca é bem mais profundo e violenta se comparado ao ótimo A Onda, lá percebemos que a chance de ser autoritário e forte, mudou facilmente a vida daqueles adolescentes, mas deu chance a aqueles que poderiam ir contra o sistema, aqui isso não existe, todos fazem parte de um sistema, e acreditam nele e Haneke deixa isso escondido nos atos, nos jeitos e na atuação maravilhosa de cada uma das crianças, principalmente Maria-Victoria Dragus (Klara) e Leonard Proxauf (Martim) os filhos do pastor .
Não vi os outros concorrentes de filme estrangeiro, mas talvez não tenha em nenhum dos indicados um filme tão profundo e maravilhoso como A Fita Branca.
Até,
André C.
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Título Original: Das Weisse Band – Eine Deutsche Kindergeschichte
Gênero: Drama
País: Áustria/Alemanha/França/Itália
Ano de Produção: 2009
Tempo de Duração: 144 minutos
Lançamento Internacional: 21/05/2009 (Cannes)
Lançamento no Brasil: 12/02/2010
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Elenco: Susanne Lothar (Esposa), Ulrich Tukur (Barão), Burghart Klaubner (Pastor), Josef Bierbichler (Camareiro), Marisa Growaldt (Fazendeira), Christian Friedel (Professor), Leonie Benesch (Eva), Ursina Landi (Baronesa Marie-Luise), Steffi Kühnert (Anna), Gabriela Maria Schmeide (Emma), Rainer Bock (Médico), Maria-Victoria Dragus (Klara), Leonard Proxauf (Martin), Janina Fautz (Erna), Michael Kranz (Hauslehrer), Levin Henning (Adolf), Thibault Sérié (Gustav), Enno Trebs (Georg), Theo Trebs (Ferdinand), Sebastian Hülk (Max), Kai-Peter Malina (Karl), Aaron Denkel (Kurti), Anne-Kathrin Gummich (Mãe de Eva), Detlev Buck (Pai de Eva) e Ernst Jacobi (Narrador).
Sounds terrific! Violência subreptícia pode ser mais angustiante do que sangue vazando pelas bordas da tela. Haneke nos confronta.
Mal posso esperar para ver!