O mundo que nos cerca é repleto de pequenas mentiras, apesar de aprendermos lá na infância que mentir é errado, logo percebemos que pequenas mentiras em muitos casos são melhores que a verdade, e estas pequenas mentiras as vezes mantém a harmonia dentro de grupo de amigos, mas até onde uma amizade ou uma relação familiar pode ser verdadeira quando as pequenas mentiras passam a ser mais presentes que a verdade? É isso que o diretor e roteirista Guillaume Canet trata em Até a Eternidade.
O diretor Guillaume Canet não cria uma história original e nem surpreendente, mas a forma como tudo é contado envolve o público e, principalmente, cria uma intimidade nossa com os personagens, que fazem as quase 3 horas de filme serem suficientes para nos sentirmos dentro daquele grupo e irmos conhecendo cada um deles a sua maneira.
Até a Eternidade, realmente não é original, pois já vimos muitos filmes sobre grupos de amigos que se encontram para conversar, debater sobre a vida e sempre tem algo mal contado, aqui a relação entre eles até é verdadeira e forte (apesar das circunstâncias que envolvem o filme), mas é cheio de farpinhas não tratadas, cheio de pequenas invejas e até um certo egoísmo, todos tem algum segredo e/ou algum problema que eles escondem dos amigos ou simplesmente preferem não discutir, preferem deixar tudo meio de lado para tentar viver em harmonia, porém aos poucos esquecem o mais importante da amizade, que é poder contar com um bom abraço de um grande amigo e, se preciso desabafar, em um ombro amigo.
Apesar do tema o filme não é um drama chato, lento e cheio de conversas cansativas, muito pelo contrário o filme equilibra bem os dramas e a comédia e por fim surpreende positivamente, uma vez que o diretor só consegue criar esta intimidade entre os amigos e o público por causa de um elenco espetacular, principalmente Gilles Lellouche, François Cluzet, Marion Cotillard e Joël Dupuch, cada um dos 4 atores dá ao filme belíssimos momentos, tanto dramáticos quanto cômicos, aliás, Joël Dupuch, que vive o marinheiro Jean-Louis é responsável pelas mais belas cenas, principalmente as cenas finais do filme, em especial a sua última, silenciosa e profunda.
Marion Cotillard está primorosa, suas cenas são recheadas de drama, de sentimento e junto com ela temos Gilles Lellouche, também primoroso, cheio de dor silenciosa, de medo e angústia. Ambos, são praticamente o mesmo personagem, mas cada um vive a sua maneira suas relações.
O filme é basicamente simples, amigos convivendo entre pequenas não verdades até que as máscaras precisam cair para tudo voltar a fazer sentido, mas a maneira como os atores vivem isso e como demonstram em certos momentos uma amizade verdadeira, a dor e a alegria fazem do filme uma ótima pedida, com um final que pode tirar lágrimas de alguns, mas com uma das mais belas cenas que vi nos últimos tempos. O filme é um belíssimo debate sobre o que é a amizade e o quanto podemos ser verdadeiros entre aqueles que chamamos de amigos, e principalmente a aprender a recuperar a essência de uma amizade.
Ah, quem pretende ver o filme por causa de Jean Dujardin, vencedor do Oscar por O Artista, ele faz um pequena ponta, mas participa da belíssima primeira tomada do filme.
Até,
André C.
Até a Eternidade (Les petits mouchoirs – 2010)
Sinopse: Apesar de um evento traumático, um grupo de amigos decide manter as férias anuais na praia. A relação entre eles, suas convicções, senso de culpa e amizade serão levados às últimas consequências. Finalmente, eles serão forçados a confessar as mentiras que têm contado uns aos outros.
Direção: Guillaume Canet
Roteiro: JGuillaume Canet
Elenco: François Cluzet (Max Cantara), Marion Cotillard (Marie), Benoît Magimel (Vincent Ribaud), Gilles Lellouche (Éric), Jean Dujardin (Ludo), Laurent Lafitte (Antoine), Valérie Bonneton (Véronique Cantara), Pascale Arbillot (Isabelle Ribaud), Joël Dupuch (Jean-Louis), Anne Marivin (Juliette), Louise Monot (Léa) e Hocine Mérabet (Nassim).
Trailer – Legendado
Muito interessante esse filme. O próprio trailer já chama a atenção e mostra que é preciso ver o filme para saber o sentido verdadeiro da amizade. Mas acho que o que vale ressaltar é que o cinema europeu é muito bom e nem sempre é reconhecido. Vale a pena abrir as possibilidades e ver filmes como esse, pelo menos para ter a possibilidade de conhecer um tipo de cinema diferente do hollywoodiano.