Você pode olhar As Neves do Kilimanjaro de 3 maneiras diferentes: a humana, a sociedade e a política, pois é isso que o filme do diretor Robert Guediguian apresenta na tela ao comparar vidas tão diferentes de 3 aspectos diferentes, e no final o que temos é um bom filme, que se não empolga, deixou algum sinal em cada um dos espectadores da lotada sala do espaço Unibanco aqui de Curitiba.
Seguindo a vida de um casal de meia idade, com um casal de filhos e três netos que leva uma vida tranquila em Marselha, o filme é suave até que um fato muda a vida deles. Após o marido perder o emprego e serem agraciados com uma viagem para Kilimanjaro o casal é violentamente assaltado, e faz com que eles e o casal de amigos envolvidos mudem completamente a maneira de ver o mundo que eles acreditavam quem viviam.
Passado o choque, o medo da violência e a revolta o casal começa a se perguntar quem realmente é a vítima daquele assalto. E o diretor Robert Guediguian faz uma belíssima análise sobre a vida, a política, sociedade e tudo que nos cerca, usando um casal em sintonia, um casal que se ama acima de tudo, o diretor vai colocando duvidas na cabeça deles, duvidas sobre o papel deles na sociedade, sobre o que eles realmente construíram para os mais jovens. Perguntas, como: quando eles deixaram de acreditar nas pessoas? Suas brigas políticas, que eles tanto acreditavam, realmente fracassaram? Eles ainda podem mudar o mundo? Eles se tornaram aquilo que queriam? Eles viveram como queriam? O que importa na vida deles?
E assim o diretor cria uma interessante estória onde faz os personagens envolvidos pensarem de maneiras diferentes sobre o mundo que os cerca, levando as pessoas da sala de cinema a ver o acontecimento dentro do filme de forma diferente, pois o diretor coloca as suas ideias nas telas e elas realmente mexem com que está dentro do cinema, ainda mais que em um belíssimo trabalho ele cria cenas interessantes, como o diálogo impressionante e forte entre Marie-Claire (a ótima cb) e a mãe do assaltante (Karole Rocher), um diálogo cruel, forte e extremamente verdadeiro, um dos melhores momentos do filme.
Mas no final o diretor consegue mostrar que acima de tudo ainda é possível acreditar que acima da política, da sociedade, existe algo maior, algo mais forte, a humanidade. E que este sentimento, mesmo no meio de tantas incertezas, ainda pode existir em cada um de nós.
Até,
André C.
As Neves do Kilimanjaro (Les neiges du Kilimandjaro – 2011)
Sinopse: No filme As Neves do Kilimanjaro, Michel e Marie-Clarie vivem felizes por mais de 30 anos, mesmo depois que ele perdeu o emprego. Mas a vida deles pode mudar completamente após sofrerem um violento assalto dentro da própria casa, fazendo eles refletirem sobre o mundo e a vida deles de uma forma geral.
Direção: Robert Guédiguian
Roteiro: Robert Guédiguian e Jean-Louis Milesi baseados livremente no poema Les Miserables de Victor Hugo
Elenco: Ariane Ascaride (Marie-Claire), Jean-Pierre Darroussin (Michel), Gérard Meylan (Raoul), Marilyne Canto (Denise), Grégoire Leprince-Ringuet (Christophe), Anaïs Demoustier (Flo), Adrien Jolivet (Gilles), Robinson Stévenin (Le commissaire) e Karole Rocher (La mère de Christophe)